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Tratamento guiado por exame de sangue reduz em 56% avanço do câncer de mama

Em um momento que marca um verdadeiro divisor de águas no enfrentamento ao câncer de mama, um novo estudo liderado por pesquisadores e

Em um momento que marca um verdadeiro divisor de águas no enfrentamento ao câncer de mama, um novo estudo liderado por pesquisadores e apresentado neste domingo, 1º de junho de 2025, no prestigiado encontro da American Society of Clinical Oncology (ASCO), revelou que o uso precoce do comprimido experimental camizestrant, da farmacêutica AstraZeneca, reduziu em 56% o risco de progressão da doença ou morte em pacientes com câncer de mama avançado. Essa descoberta tem o potencial de mudar radicalmente a prática clínica atual e redefinir protocolos no combate ao tipo mais comum da doença. A notícia foi originalmente publicada pela jornalista Julie Steenhuysen, da Reuters.

O que torna este estudo ainda mais inovador é o método de detecção usado para guiar a mudança de tratamento: um exame de sangue do tipo biópsia líquida, capaz de identificar mutações genéticas antes mesmo que qualquer sinal de crescimento tumoral seja detectado por exames de imagem. A lógica é simples, mas poderosa: agir antes que o inimigo avance.

Segundo a oncologista Dra. Eleonora Teplinsky, da Valley-Mount Sinai Comprehensive Cancer Care e especialista em câncer de mama da ASCO, “quando os pacientes apresentam progressão detectada por exames de imagem, já estamos atrasados”. Para ela, o uso do camizestrant orientado por exames sanguíneos permite aos médicos “estar à frente da curva”, antecipando-se ao avanço do câncer. Em sua avaliação, mesmo que o medicamento ainda não tenha sido aprovado pelo FDA (agência reguladora dos Estados Unidos), os resultados apresentados devem inaugurar um novo paradigma terapêutico.

O estudo abrangeu 3.256 pacientes com câncer de mama avançado do tipo receptor hormonal positivo e HER2-negativo, uma forma da doença impulsionada por hormônios como o estrogênio, mas que não apresenta altos níveis da proteína HER2 — o que a torna mais comum e, até certo ponto, mais resistente a determinados tratamentos.

Essas pacientes haviam recebido, por no mínimo seis meses, inibidores de aromatase — medicamentos que bloqueiam a produção hormonal — em conjunto com inibidores da CDK4/6, como o Kisqali (Novartis), Ibrance (Pfizer) ou Verzenio (Eli Lilly), todos atuando no bloqueio de enzimas que estimulam o crescimento do tumor. Entretanto, cerca de 40% dessas pacientes acabam desenvolvendo mutações no gene ESR1, responsável pelo receptor de estrogênio, indicando o início da resistência ao tratamento hormonal tradicional.

É aqui que o camizestrant brilha. Ele pertence a uma nova classe de medicamentos chamada degradadores seletivos de receptores de estrogênio (SERDs), que interrompem diretamente o sinal hormonal dentro das células cancerígenas. Diferentemente de seus antecessores, que apenas bloqueiam o receptor, os SERDs eliminam a função do receptor completamente.

Na fase crucial do estudo, 315 pacientes com a mutação ESR1 identificada em exames de sangue foram randomizadas em dois grupos: um recebeu camizestrant combinado com o inibidor CDK4/6, e o outro seguiu com o tratamento padrão e placebo. O resultado foi contundente: a progressão da doença levou 16 meses no grupo tratado com camizestrant, contra apenas 9,2 meses no grupo que manteve a terapia convencional.

Mais impressionante ainda foi o perfil de segurança do novo medicamento. Não houve relatos de novos efeitos colaterais, e pouquíssimas pacientes abandonaram o tratamento por motivos adversos. A Dra. Hope Rugo, diretora de oncologia mamária da City of Hope, em Duarte (Califórnia), afirmou que o impacto dessa abordagem será “enorme para nossas pacientes”. No entanto, ela alertou para a necessidade urgente de que os médicos comecem a integrar esses exames sanguíneos em sua prática clínica, um desafio que envolve desde infraestrutura laboratorial até mudanças nos protocolos de cuidado.

Mas a revolução não parou por aí. A mesma AstraZeneca revelou, também durante o evento, resultados animadores com seu imunoterápico durvalumabe (Imfinzi), ao combiná-lo com a quimioterapia padrão FLOT em pacientes com câncer gástrico e esofágico em estágio inicial. Nesse estudo, quase 950 pacientes participaram de uma análise global que comparou o uso da imunoterapia em conjunto com o tratamento tradicional em diferentes fases da cirurgia oncológica.

Os resultados indicaram que os pacientes que receberam durvalumabe antes e depois da cirurgia apresentaram uma melhora de 29% na sobrevida livre de eventos, ou seja, viveram mais tempo sem recorrência ou progressão do câncer, em relação aos pacientes tratados apenas com FLOT. De acordo com a autora principal do estudo, Dra. Yelena Jarnigan, do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, “isso muda a prática clínica, sem sombra de dúvida”, celebrando ainda o fato de que nenhum novo sinal de toxicidade foi detectado, o que consolida a segurança da abordagem.

Ambos os estudos foram publicados neste domingo na renomada New England Journal of Medicine, conferindo ainda mais peso científico aos resultados e ampliando a visibilidade global dessas descobertas. A convergência de duas abordagens — a detecção precoce por biópsia líquida e o uso racional de imunoterapia — abre uma nova fronteira no tratamento personalizado do câncer, algo que por muito tempo foi visto como um ideal distante, mas que agora se aproxima da realidade clínica.

O papel da AstraZeneca, uma gigante farmacêutica que tem investido pesado em soluções oncológicas, mostra que a medicina de precisão finalmente está se materializando nos tratamentos reais, indo além dos laboratórios para oferecer esperança concreta a milhares de pacientes. Não se trata apenas de prolongar a vida, mas de preservar a qualidade dessa vida, permitindo que mulheres com câncer de mama avancem em seus tratamentos sem aguardar que a doença tome as rédeas do processo.

Essas descobertas nos levam a refletir sobre o futuro da oncologia. O diagnóstico precoce, sempre defendido como uma arma poderosa contra o câncer, agora se vê aliado à inteligência molecular e genética para transformar a forma como tratamos tumores resistentes. Estamos presenciando uma transição do modelo reativo — que trata apenas após evidências físicas do avanço da doença — para um modelo proativo e preditivo, baseado em marcadores genéticos identificáveis em uma simples amostra de sangue.

A medicina, nesse novo cenário, deixa de ser apenas clínica e passa a ser também informacional e molecular, oferecendo terapias moldadas à realidade de cada paciente. O impacto dessa transformação vai além dos hospitais: ele chega às políticas públicas, às decisões de incorporação tecnológica e aos critérios de aprovação por agências reguladoras ao redor do mundo.

É preciso destacar que, mesmo com todos esses avanços, ainda há desafios consideráveis à frente. O acesso às novas tecnologias, a capacitação de equipes médicas para interpretar exames genéticos, e a equidade na distribuição de terapias modernas entre diferentes regiões do planeta serão determinantes para o sucesso desse novo modelo. Mas o primeiro e mais importante passo já foi dado: a ciência comprovou que é possível intervir antes do estrago, e com isso, salvar vidas.

Enquanto o camizestrant aguarda aprovação oficial nos Estados Unidos e em outras jurisdições, os resultados do estudo já são o suficiente para acelerar discussões em conselhos de saúde e agências como o FDA e a EMA. A pressão da comunidade científica, das associações de pacientes e da própria indústria farmacêutica deve tornar esses dados prioritários para análise regulatória, dada a magnitude do benefício comprovado.

Em tempos de incerteza e avanço desenfreado de doenças, é reconfortante saber que a inteligência humana, aliada à tecnologia de ponta, continua gerando soluções concretas. Para a Sociedade Médica, esses resultados representam um farol de inovação e responsabilidade científica, um lembrete poderoso de que a excelência clínica nasce do compromisso com a antecipação, a personalização e o cuidado integral.

Em nome da ciência, das mulheres em tratamento e de todos os profissionais de saúde envolvidos, este avanço merece não apenas aplausos, mas também ação.

Com informações Reuters

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