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Tezepelumab reduz uso de corticoides em pacientes com asma grave, diz estudo

Em um cenário clínico onde a asma grave frequentemente exige o uso contínuo e prejudicial de corticosteroides orais, uma nova esperança emerge com

Em um cenário clínico onde a asma grave frequentemente exige o uso contínuo e prejudicial de corticosteroides orais, uma nova esperança emerge com os resultados do estudo WAYFINDER, apresentado durante o congresso anual da American Thoracic Society, em San Francisco. O estudo, liderado por David J. Jackson, do King’s College London, e comentado por Mario Castro, da University of Kansas, revela um feito notável: a adição de tezepelumabe (Tezspire) possibilitou a significativa redução — e em muitos casos, a completa descontinuação — do uso diário de corticoides orais, sem perda do controle da asma.

Publicado originalmente por Crystal Phend, editora colaboradora da MedPage Today, em 20 de maio de 2025, o artigo destaca que 88,9% dos pacientes conseguiram reduzir sua dose de corticoide oral para 5 mg por dia ou menos ao final de 28 e 52 semanas, mantendo o controle da asma, conforme demonstrado pela ausência de piora significativa no questionário Asthma Control Questionnaire-6 (ACQ-6) ou pela não ocorrência de exacerbações.

O número impressiona ainda mais quando observamos que, ao final de um ano de tratamento, metade dos pacientes (50,3%) conseguiu parar totalmente o uso de corticoide oral sem perder o controle da doença. Este dado tem implicações clínicas enormes, considerando os efeitos adversos amplamente conhecidos do uso crônico de corticoides, como osteoporose, distúrbios cardiovasculares, disfunções metabólicas, problemas psiquiátricos e até insuficiência adrenal.

Para compreender a magnitude do estudo WAYFINDER, é fundamental contextualizá-lo no histórico de desenvolvimento do tezepelumabe, um anticorpo monoclonal que inibe a TSLP (thymic stromal lymphopoietin), uma citocina-chave envolvida na inflamação da asma. O medicamento foi aprovado como tratamento adjuvante para asma grave em 2021, após sua atuação promissora no ensaio clínico fase III SOURCE — ainda que este não tenha alcançado seu desfecho primário na época.

O estudo atual é um ensaio de braço único de fase IIIb, que incluiu 298 adultos (média de 54 anos, sendo 69% mulheres e 87% brancos) com histórico de asma grave. Todos já estavam utilizando corticosteroide inalatório em alta dose, associado a um beta-agonista de longa duração, há pelo menos seis meses. Também estavam em uso contínuo de prednisona ou prednisolona oral (média de 10,8 mg/dia) por três meses ou mais, além de terem sofrido ao menos uma exacerbação asmática no último ano.

O protocolo consistiu na administração de tezepelumabe 210 mg via subcutânea a cada quatro semanas. Após quatro semanas de estabilização da dose de corticoide oral, iniciava-se um processo cuidadosamente escalonado de redução de dose, entre 1 a 5 mg, a cada 1 a 4 semanas, conforme a dose inicial do paciente. Essa estratégia foi orientada por dois pilares: manutenção do controle da asma e funcionamento adrenal preservado.

Um aspecto técnico relevante do estudo foi o monitoramento rigoroso da função adrenal, utilizando testes de cortisol matinal e, quando necessário, teste de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Pacientes com insuficiência adrenal diagnosticada tiveram suas reduções de dose interrompidas, sendo reavaliados em ritmos mais lentos conforme a recuperação da função adrenal.

Esse detalhamento demonstra o grau de complexidade envolvido na transição terapêutica, algo muitas vezes negligenciado em protocolos padronizados. Não se trata apenas de retirar o corticoide, mas de respeitar os limites fisiológicos do paciente, ao mesmo tempo em que se garante eficácia clínica. Isso explica por que o estudo representa um avanço real, e não apenas uma tentativa teórica.

Interessante notar que o efeito benéfico do tezepelumabe foi consistente entre os diferentes subgrupos, incluindo pacientes com variações nos níveis de eosinófilos sanguíneos, óxido nítrico exalado (FeNO), presença de alergias e doses iniciais de corticoide oral. Apenas um subgrupo, composto por pacientes que utilizavam doses mais altas de corticoides (>10 mg/dia), teve uma taxa inferior de sucesso na redução para 5 mg ou menos — menos de 80% conseguiram atingir essa meta.

Entre os desfechos secundários do estudo, também foram observadas melhorias notáveis. A taxa anual de exacerbações asmáticas caiu para 0,57 ao final de 52 semanas, comparada a 1,80 na linha de base. Além disso, 66,9% dos participantes ficaram livres de exacerbações após um ano de tratamento. Mesmo com a redução ou retirada de corticoides, houve um ganho significativo na função pulmonar, medido pelo VEF1 (volume expiratório forçado no primeiro segundo), que aumentou em média 0,07 L — resultado estatisticamente relevante. A qualidade de vida dos pacientes e os escores de controle da asma também melhoraram significativamente.

Contudo, como bem pontuado por Mario Castro, moderador da sessão, o estudo possui uma limitação importante: a ausência de grupo controle. Estudos anteriores já demonstraram que pacientes com uso crônico de corticoides podem estar supertratados e que há um efeito placebo considerável ao iniciar novas terapias. Assim, embora os resultados sejam animadores, eles exigem cautela na extrapolação para a prática clínica generalizada sem estudos randomizados adicionais.

Apesar disso, os dados apresentados são fortemente indicativos de que o tezepelumabe representa um novo paradigma no manejo da asma grave dependente de corticoides. Seu uso, baseado na modulação do sistema imune e na inibição de uma via inflamatória-chave, reflete a nova era da medicina respiratória: personalizada, biológica e racionalmente adaptada ao perfil do paciente.

A Sociedade Médica, enquanto agente divulgador do conhecimento clínico baseado em evidências, precisa atentar para a incorporação progressiva de terapias biológicas no arsenal terapêutico da asma. Tais intervenções não apenas reduzem a dependência de medicamentos com efeitos colaterais severos, como também melhoram a adesão do paciente ao tratamento e sua qualidade de vida.

Em tempos nos quais os desafios respiratórios crescem com a urbanização, poluição e envelhecimento populacional, é imperativo que os profissionais de saúde estejam informados sobre soluções inovadoras, eficazes e seguras. O estudo WAYFINDER nos mostra que o futuro do tratamento da asma grave já está entre nós — e atende pelo nome de tezepelumabe.

Com informações MedPageToday

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