
Segundo Marco Antonio Benedetti Filho, Diretor Presidente da Unimed Franca, imaginar um atendimento médico sem a presença física entre médico e paciente parecia algo saído de uma ficção científica. A telemedicina, essa “consulta por videochamada”, era tida como um luxo futurista reservado a países altamente desenvolvidos ou contextos emergenciais extremos. Mas como muitas das grandes transformações na história da humanidade, ela chegou não por escolha, mas por necessidade — e veio para ficar.
O que antes era exceção, agora é regra. O empurrão inevitável veio com a pandemia da covid-19, que forçou o mundo a encontrar alternativas rápidas, seguras e eficazes para garantir o acesso à saúde sem colocar vidas em risco. E o que se viu foi uma revolução silenciosa, mas profunda. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, mais de 70% dos países aderiram ou ampliaram o uso da telemedicina no auge da crise sanitária. No Brasil, os números são ainda mais reveladores: passamos de míseros 2 mil atendimentos remotos por mês para mais de 300 mil em plena pandemia. Uma escalada exponencial que mostrou, na prática, que o sistema de saúde brasileiro é mais adaptável do que muitos imaginavam.
A videochamada médica deixou de ser apenas uma ferramenta de conveniência e se transformou em um pilar estratégico para a atenção básica e especializada. Não é exagero afirmar que, hoje, ela salva vidas ao evitar deslocamentos desnecessários, reduz filas de espera, desafoga hospitais e devolve dignidade ao paciente que precisa de orientação segura sem sair de casa. A aceitação é tanta que, mesmo após a reabertura das cidades, 76% dos brasileiros afirmam que desejam continuar utilizando o atendimento remoto, segundo um levantamento recente da consultoria McKinsey. Ou seja, não estamos mais falando de uma experiência emergencial, mas de uma nova cultura de saúde que se consolida em todas as esferas.
É claro que ninguém está propondo substituir o contato físico em situações que exigem exames clínicos detalhados, diagnósticos complexos ou procedimentos médicos. A telemedicina não veio para eliminar o presencial, mas para complementá-lo de forma inteligente. Os dois modelos podem — e devem — coexistir em harmonia. Inclusive, ao assumir essa postura integrativa, hospitais de ponta como o Albert Einstein registraram uma queda de até 60% nos atendimentos presenciais de baixa complexidade, o que libera recursos humanos e estruturais para casos mais urgentes e graves.
Essa reorganização dos fluxos de atendimento traz impactos diretos na eficiência do sistema, na qualidade do serviço prestado e, principalmente, na experiência do paciente. A nova lógica de cuidado é mais dinâmica, personalizada e centrada no indivíduo. O paciente deixa de ser um número numa fila de espera e passa a ser atendido de maneira mais rápida, conveniente e segura, sem interrupções na rotina ou necessidade de longos deslocamentos. A tecnologia permite que o cuidado chegue onde antes era impossível — até porque, como nos mostra a Fiocruz, mais de 40% dos municípios com menos de 20 mil habitantes já oferecem algum tipo de atendimento remoto, promovendo mais equidade no acesso à saúde.
Sim, estamos falando de um verdadeiro salto civilizacional. A ideia de que a saúde deve estar onde o paciente está nunca foi tão verdadeira. Hoje, isso significa estar no celular, no computador, na televisão conectada — estar, de fato, ao alcance de todos. Não importa se é um paciente no centro de São Paulo ou em um vilarejo no interior do Piauí. A barreira da distância, que por décadas foi um dos maiores entraves à universalização da saúde, está sendo rompida por bytes, nuvens e algoritmos.
Mas atenção: isso não significa que o trabalho está concluído. Longe disso. A telemedicina é um caminho promissor, mas ainda exige rigor, ética e compromisso com a excelência. É fundamental que a qualidade do atendimento não seja sacrificada em nome da conveniência. A tecnologia, por mais revolucionária que seja, é apenas um meio — e não um fim em si mesma. Ela precisa estar a serviço de um cuidado mais humano, empático e ético.
O sigilo das informações, a privacidade dos pacientes, a validação dos profissionais e a infraestrutura adequada são elementos inegociáveis. Sem isso, qualquer avanço se torna frágil e perigoso. O mundo digital exige um novo tipo de responsabilidade, onde o médico precisa ser, ao mesmo tempo, cuidadoso com o diagnóstico e vigilante com os dados. Afinal, a sala de consulta agora é também uma rede interconectada que exige protocolos rígidos de segurança e conduta.
Além disso, é essencial garantir acessibilidade digital. A exclusão tecnológica ainda é uma realidade em muitas regiões do Brasil. Não basta oferecer a videochamada; é preciso capacitar a população, ampliar o acesso à internet de qualidade, desenvolver plataformas intuitivas e, principalmente, investir em educação digital para médicos e pacientes. Sem isso, a telemedicina corre o risco de se tornar um privilégio de poucos — o que vai contra sua proposta de democratização da saúde.
Outro ponto-chave é o investimento na formação dos profissionais de saúde. O médico que atende remotamente precisa dominar não apenas os protocolos clínicos, mas também habilidades de comunicação digital, manejo tecnológico e sensibilidade ampliada para entender sintomas e emoções através de uma tela. Isso exige uma mudança profunda nas grades curriculares das faculdades de medicina, que precisam preparar profissionais para um novo tempo — um tempo onde o conhecimento técnico se alia à fluência digital para gerar impacto real na vida das pessoas.
Em um país de dimensões continentais como o Brasil, onde a logística muitas vezes impõe barreiras desumanas entre o paciente e o cuidado, a telemedicina surge como uma solução robusta, sustentável e absolutamente necessária. Ela é o elo entre o presente e o futuro, entre a tecnologia e a empatia, entre o avanço e a responsabilidade.
Negar a relevância da telemedicina hoje é como negar a importância do telefone no século passado. É fechar os olhos para uma transformação que já está em curso — e que não tem mais volta. O perfil dos pacientes mudou, as expectativas mudaram, e os profissionais de saúde também estão se adaptando a essa nova dinâmica. O que era um recurso emergencial se transformou em serviço essencial. E, mais do que isso, em símbolo de uma medicina mais inteligente, flexível e centrada no ser humano.
Enquanto muitos ainda discutem se a telemedicina é eficaz, ela segue salvando vidas, resolvendo problemas, encurtando distâncias e conectando médicos e pacientes em uma frequência jamais imaginada. O que está diante de nós é a comprovação de que a ciência, quando aliada à inovação e à sensibilidade, pode superar barreiras seculares e entregar resultados concretos.
A pergunta que resta agora não é mais “se” devemos investir em telemedicina, mas “como” vamos garantir que ela continue crescendo com qualidade, ética e foco na melhoria contínua do cuidado à população. Porque o futuro, meus caros, já chegou. E ele atende por videochamada.
Com informações Medicina S/A