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MEC vai avaliar qualidade dos cursos de medicina e selecionar alunos para residência

Em meio a um cenário educacional marcado por dúvidas sobre a qualidade da formação médica no Brasil, o Ministério da Educação (MEC) anunciou

Em meio a um cenário educacional marcado por dúvidas sobre a qualidade da formação médica no Brasil, o Ministério da Educação (MEC) anunciou uma medida que promete provocar uma verdadeira revolução no ensino superior da área de saúde: o lançamento do Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed). Trata-se de uma nova prova anual, que será aplicada pela primeira vez em outubro de 2025, com o objetivo de medir a qualidade dos cursos de medicina no país e, simultaneamente, selecionar candidatos às vagas de residência médica.

A proposta do governo federal representa uma tentativa de padronizar e monitorar com mais rigor os cerca de 300 cursos de medicina espalhados por 200 municípios brasileiros. O que está em jogo, segundo o MEC, é a credibilidade da formação médica nacional e, por extensão, a segurança dos pacientes atendidos por esses futuros profissionais. É uma iniciativa que busca garantir mais eficiência, transparência e responsabilidade das instituições de ensino com o futuro dos seus alunos — e da sociedade como um todo.

O Enamed surge, portanto, como uma resposta prática às críticas que se acumulam há anos sobre a expansão desenfreada de faculdades de medicina, muitas delas com estrutura precária, corpo docente instável e nenhum compromisso com a excelência acadêmica. Segundo o ministro da Educação, Camilo Santana, o novo exame terá impacto não só nos concluintes, mas, futuramente, poderá ser aplicado aos estudantes ainda no meio do curso, criando um mecanismo de avaliação contínua e de correção de rota.

Já na estreia, o Enamed deve reunir 42 mil estudantes concluintes e médicos já formados, interessados em disputar vagas de residência pelo Exame Nacional de Residência Médica (Enare). Este último, coordenado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), já responde atualmente por 25% das vagas de residência médica no Brasil — em 2024, foram 8,8 mil bolsas oferecidas, distribuídas em 1,7 mil programas e 162 instituições, com mais de 56 mil candidatos inscritos.

O que muda com o novo exame? O Enamed será composto por 100 questões objetivas de múltipla escolha, distribuídas entre as principais áreas da medicina: Clínica Médica, Cirurgia Geral, Ginecologia e Obstetrícia, Pediatria, Medicina da Família e Comunidade, Saúde Mental e Saúde Coletiva. O conteúdo da prova será elaborado com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais, respeitando as orientações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela matriz teórica e pela estrutura metodológica.

Ao tornar-se também instrumento de acesso direto às vagas de residência médica, o Enamed passa a ter peso duplo: além de funcionar como ferramenta de avaliação institucional, ele também se converte em uma chancela individual para o estudante ou médico recém-formado. Isso significa que o desempenho do candidato refletirá tanto sobre sua trajetória acadêmica quanto sobre a reputação da faculdade em que se formou.

E não para por aí: com essa mudança, instituições privadas, estaduais, municipais e filantrópicas poderão também adotar o Enamed e o Enare como critério de seleção, ampliando o alcance da nova política educacional. O presidente da Ebserh, Arthur Chioro, confirmou que já há conversas avançadas com secretarias de saúde municipais e estaduais, como as de São Paulo, para a adoção do exame federal ainda este ano. Ou seja, o que começou como um piloto com o MEC e a Ebserh pode se tornar, muito em breve, a principal via de seleção para a residência médica em todo o país.

As inscrições dos alunos concluintes serão realizadas pelas instituições de ensino entre maio e junho, via Enade, enquanto os médicos formados interessados em utilizar a nota do Enamed no Enare deverão se inscrever individualmente em julho. Essa divisão entre concluintes e formados demonstra que o exame foi planejado para atender à pluralidade dos perfis de candidatos à residência: desde aqueles que estão se formando até os que já atuam no mercado, mas desejam aprofundar sua formação por meio da especialização médica.

É importante destacar que a iniciativa também dialoga diretamente com os problemas estruturais enfrentados pela saúde pública brasileira. Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a qualidade da formação médica no país precisa ser tratada como prioridade nacional. Em suas palavras, “algo não está bem na nossa formação médica”, e o Estado precisa ter “um olhar mais atento sobre as instituições formadoras”, que muitas vezes lucram com mensalidades elevadas, mas entregam uma formação aquém do necessário.

A crítica de Padilha reflete uma preocupação recorrente entre especialistas: a explosão de cursos privados de medicina, nem sempre acompanhada de investimentos proporcionais em laboratórios, hospitais universitários, preceptores e carga horária adequada. Com o Enamed, o governo passa a exercer uma pressão positiva sobre essas instituições, que serão avaliadas publicamente com base no desempenho de seus alunos.

Essa publicização dos resultados, aliás, deve se tornar um fator decisivo no mercado educacional. Faculdades mal avaliadas poderão perder atratividade diante de concorrentes com melhores notas, enquanto as melhores colocadas poderão atrair mais alunos, prestígio e recursos. É uma forma de submeter o ensino superior à lógica da meritocracia acadêmica, beneficiando alunos, pacientes e o sistema de saúde como um todo.

O lançamento do Enamed também reforça a confiança na capacidade do Estado em organizar políticas públicas eficientes e de longo prazo na educação médica. Ao contrário de iniciativas pontuais, o novo exame foi concebido como um instrumento perene, de aplicação anual, com metas claras de avaliação, correção de rumos e integração com o sistema de saúde.

Naturalmente, o sucesso da proposta dependerá da sua implementação técnica, da transparência nos critérios de avaliação, e da capacidade logística do Inep e da Ebserh em garantir a segurança e a credibilidade do processo. Também será essencial um trabalho contínuo de comunicação com os estudantes, docentes, gestores de saúde e a sociedade civil, para que o Enamed não seja visto apenas como “mais uma prova”, mas como um novo paradigma de controle de qualidade da formação médica no Brasil.

O fato é que, em um país continental como o nosso, com desigualdades gritantes e sistemas de saúde locais ainda muito carentes, a padronização e a exigência por qualidade não são luxo — são uma necessidade vital. O Enamed pode e deve ser o início de uma mudança profunda na forma como o Brasil forma seus médicos: com mais rigor, mais responsabilidade e mais compromisso com a vida humana.

Ao elevar o nível da formação médica e ao oferecer um instrumento justo, nacional e transparente para acesso à residência, o MEC envia um recado direto aos atores do ensino superior: o tempo da impunidade pedagógica acabou. Agora, quem não garantir qualidade — comprovada por meio de desempenho mensurável — ficará para trás.

E quem ganha com isso? Toda a sociedade.

Com informações G1

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