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Descubra a verdade sobre a “barriga de cortisol” e como combatê-la

O termo “barriga de cortisol” tem ganhado espaço em conversas sobre saúde e bem-estar, frequentemente usado para descrever aquele acúmulo incômodo de gordura

O termo “barriga de cortisol” tem ganhado espaço em conversas sobre saúde e bem-estar, frequentemente usado para descrever aquele acúmulo incômodo de gordura na região abdominal. Mas será que isso é realmente causado por esse hormônio do estresse? Ou estamos apenas repetindo um mito moderno, reforçado por modismos e desinformação? Com base no artigo original “Cortisol Belly: Causes and Symptoms”, escrito por Rachel Reiff Ellis, vamos explorar o que há de verdadeiro nessa história, de forma clara, acessível e cientificamente embasada.

A “barriga de cortisol”, também chamada por alguns de “barriga hormonal”, não é um diagnóstico médico formal, tampouco uma condição reconhecida clinicamente. Trata-se de um termo popular para descrever o ganho de peso concentrado no abdômen, frequentemente relacionado ao estresse crônico. A razão para isso? Acredita-se que níveis elevados de cortisol, o hormônio do estresse, estariam associados a esse acúmulo de gordura. Mas a realidade é bem mais complexa e envolve uma série de fatores.

Para entender essa ligação entre cortisol e gordura abdominal, é preciso primeiro reconhecer que o ganho de peso – especialmente na região abdominal – é influenciado por inúmeros elementos: alimentação, nível de atividade física, qualidade do sono, condições médicas e predisposição genética. Além disso, diversos hormônios desempenham papel fundamental na forma como o corpo armazena gordura, como a insulina, os hormônios sexuais (estrogênio, progesterona, androgênio), os hormônios da tireoide, e, é claro, o cortisol.

No caso das mulheres, por exemplo, a gordura costuma se concentrar mais nos quadris e coxas antes da menopausa. Após esse período, com a queda nos níveis de estrogênio, há maior tendência de acúmulo na região abdominal. Essa gordura pode ser subcutânea (logo abaixo da pele) ou visceral, que é a mais perigosa por se alojar em torno dos órgãos internos. O excesso de gordura visceral está diretamente ligado a síndrome metabólica, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.

O cortisol em si é produzido pelas glândulas suprarrenais e é essencial para a resposta ao estresse. Ele age em conjunto com a adrenalina: enquanto esta prepara o corpo para um pico de energia, o cortisol sustenta essa resposta ao longo do tempo, mantendo-nos alerta e atentos a perigos. No entanto, quando o estresse se torna crônico, os níveis de cortisol podem se manter elevados, e é aí que teorias populares apontam a culpa para esse hormônio quanto ao ganho de peso abdominal.

Contudo, segundo o médico Rexford Ahima, MD, PhD, diretor da Divisão de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo da Johns Hopkins Medicine, essa relação direta entre estresse crônico, altos níveis de cortisol e gordura abdominal não é sustentada por evidências científicas consistentes. O que existe, de fato, são condições médicas específicas, como a síndrome de Cushing, que causam elevação anormal do cortisol e podem levar ao acúmulo de gordura no abdômen.

A síndrome de Cushing pode ocorrer por causa de tumores ou como efeito colateral do uso prolongado de medicamentos como corticosteroides. Nesses casos, o ganho de peso costuma ser bem característico: aumento abdominal, enquanto braços e pernas permanecem finos, além de rosto arredondado (face em lua cheia), giba cervical (acúmulo de gordura entre os ombros), estrias arroxeadas, e pele fina e frágil.

Outra condição relacionada ao ganho de gordura abdominal é a síndrome metabólica, que agrupa fatores de risco como pressão alta, glicose elevada, triglicérides altos, baixo HDL (colesterol bom) e circunferência abdominal aumentada. Essa síndrome é mais comum em pessoas mais velhas, mulheres pós-menopausa, e está associada à resistência à insulina e inflamação crônica. Apesar disso, como reforça Ahima, não se sabe exatamente o que causa a síndrome metabólica, e fatores como alimentação industrializada, sedentarismo, estresse e má qualidade do sono estão entre os possíveis responsáveis.

Visualmente, a barriga de cortisol costuma se manifestar como um acúmulo centralizado no abdômen, com pouca ou nenhuma gordura nos braços e pernas. Porém, isso não significa que todo ganho abdominal seja culpa do cortisol. E, mais importante ainda: reduzir os níveis desse hormônio nem sempre resulta em perda de gordura.

Apesar disso, adotar hábitos que reduzem o estresse pode melhorar a saúde geral, e, indiretamente, ajudar no controle do peso. Isso inclui:

  • Praticar exercícios físicos regularmente, preferencialmente atividades prazerosas e com regularidade. Segundo Ahima, o ideal é caminhar cerca de 8 mil passos por dia e incluir exercícios de resistência na rotina. Vale lembrar que o excesso de exercício, sem descanso adequado, pode, paradoxalmente, aumentar o cortisol.
  • Priorizar o sono, mantendo horários regulares, ambiente escuro e silencioso, e qualidade do descanso.
  • Adotar técnicas de relaxamento como meditação, tai chi, exercícios respiratórios e mindfulness.
  • Expor-se à natureza: bastam 20 minutos por dia em um parque ou área verde para ajudar a reduzir os níveis de cortisol.
  • Evitar o tabagismo, já que fumar eleva o cortisol e prejudica o sono.
  • Manter laços sociais saudáveis, com pessoas que promovem bem-estar e apoio emocional.

Nos casos em que o acúmulo de gordura abdominal se deve a condições médicas específicas como a síndrome de Cushing, o tratamento deve ser indicado por um médico. Existem bloqueadores de cortisol, mas eles só são eficazes para pacientes com diagnóstico clínico preciso. Fora desse contexto, não há qualquer comprovação de que suplementos de venda livre ou dietas da moda que prometem “controlar o cortisol” funcionem. Aliás, é preciso cautela com empresas que exploram esse discurso para vender falsas promessas de emagrecimento.

Na alimentação, também não existe uma “dieta da barriga de cortisol”, mas alguns padrões alimentares são conhecidos por reduzir a inflamação e melhorar o equilíbrio hormonal. A dieta mediterrânea é um exemplo, com foco em alimentos frescos, naturais e ricos em nutrientes:

  • Frutas e vegetais variados;
  • Leguminosas e oleaginosas;
  • Grãos integrais;
  • Azeite de oliva extravirgem como principal gordura;
  • Peixes ricos em ômega-3;
  • Laticínios com moderação;
  • Pouco ou nenhum consumo de carnes vermelhas, doces e refrigerantes.

Alimentos ricos em magnésio (como abacate, banana, chocolate amargo e espinafre), ômega-3 (como salmão, sardinha, chia e linhaça) e probióticos (como iogurte grego, kombucha e chucrute) também ajudam a reduzir o estresse inflamatório e regular o eixo hormonal.

Já os suplementos para cortisol, embora populares, não têm eficácia comprovada. Alguns estudos apontam que ervas como ashwagandha, rhodiola, camomila e erva-cidreira podem ajudar a reduzir o estresse, mas não devem ser usadas como substitutas de tratamento médico, e sempre requerem orientação profissional.

Em resumo, o conceito de “barriga de cortisol” deve ser encarado com cautela. Embora o estresse crônico e o desequilíbrio hormonal influenciem o ganho de peso, a ideia de que controlar o cortisol isoladamente levará à perda de gordura abdominal é, no mínimo, simplista. A gordura abdominal resulta de um conjunto multifatorial: alimentação, sono, genética, níveis hormonais, estilo de vida e até estado emocional.

O caminho mais seguro e eficaz para cuidar da saúde e manter um peso equilibrado continua sendo o de sempre: alimentação balanceada, atividade física, sono reparador, manejo do estresse e acompanhamento médico regular. Não caia em soluções mágicas. A saúde verdadeira é construída com consistência, informação e escolhas conscientes.

Com informações WebMD

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