
Vamos conversar sobre um assunto que, em muitos momentos, parece distante do seu dia a dia, mas que, na realidade, afeta um número crescente de pessoas ao redor do mundo: o eczema de contato alérgico. Isso é algo que você talvez já tenha ouvido falar, mas provavelmente não tenha refletido profundamente sobre suas implicações, especialmente no que diz respeito aos novos alergênios que estão surgindo constantemente. E é aí que a dermatologia, mais especificamente a Dra. Angèle Soria, do Hôpital Tenon, na França, entra em cena, trazendo à tona um conjunto de descobertas preocupantes, mas necessárias para quem, como você, quer entender melhor o impacto de produtos comuns em nossa saúde.
A Dra. Soria, em sua recente apresentação nas Journées de dermatologie de Paris (JDP 2024), destacou um fenômeno que poucos percebem: a proliferação de novos alergênios, substâncias que causam reações alérgicas de pele, no contexto do eczema de contato. E o que mais chama atenção aqui é a crescente presença de substâncias que estão diretamente ligadas a produtos de consumo diário – como os (met)acrilatos. Esses compostos estão presentes em uma vasta gama de produtos para as unhas, desde esmaltes semipermanentes até os kits vendidos na internet, muitas vezes utilizados em casa. Você já imaginou que algo tão simples, como fazer as unhas em casa, poderia ser a causa de um problema de saúde?
O eczema de contato alérgico, que é uma reação de hipersensibilidade da pele a certos produtos, pode não parecer algo grave para a maioria das pessoas, mas a realidade é bem diferente. Esta condição afeta cerca de 20% da população mundial, o que significa que uma em cada cinco pessoas pode, em algum momento, ser acometida por uma reação alérgica provocada por algo que ela simplesmente usou no dia a dia. E acredite, esse número pode estar crescendo com o tempo, à medida que novos alergênios continuam a ser introduzidos nos produtos cosméticos e de cuidados pessoais. Não estamos falando apenas de pessoas com pele sensível ou predispostas a alergias; estamos falando de um número crescente de consumidores que, sem saber, estão sendo expostos a substâncias que podem ser prejudiciais.
Em sua apresentação, a Dra. Angèle Soria trouxe à tona um ponto que, de certa forma, pode ter escapado aos olhos de muitos. Quando ela descreveu as quatro categorias de alergênios mais problemáticas, ficou claro que estamos lidando com uma transformação nos produtos que consumimos – uma transformação que tem implicações diretas para a saúde da pele. Os (met)acrilatos são a estrela dessa mudança. Presentes em esmaltes de unhas, esses compostos químicos são usados em produtos de manicures profissionais, mas também em kits caseiros vendidos na internet, criando uma exposição ainda mais ampla. Você já parou para pensar que, ao fazer suas próprias unhas em casa, pode estar se expondo a substâncias que poderiam desencadear um problema de saúde? Se você for uma daquelas pessoas que compram kits de esmalte pela internet, é possível que tenha lidado com produtos contendo essas substâncias, sem nem ao menos saber dos riscos que correm.
E os riscos são reais. A Dra. Soria destaca que o eczema de contato alérgico é uma condição conhecida, mas que, devido à constante mudança nos padrões de consumo, novos alergênios continuam a surgir e a desafiar a medicina. O exemplo dos parabenos é emblemático: há 15 anos, esses conservantes estavam em praticamente todos os cosméticos, mas, devido a preocupações com o sistema endócrino, foram rapidamente substituídos por outros ingredientes, como a metilisotiazolinona. No entanto, o que parecia uma solução para um problema, gerou outro: entre 2010 e 2013, uma epidemia de eczema de contato alérgico atingiu a Europa, provocada exatamente por esse conservante. A Dra. Soria relatou que cerca de 10% da população testada era alérgica a esses conservantes. Parece um número pequeno? Pode até parecer, mas estamos falando de milhões de pessoas em todo o continente. Esse problema, que inicialmente era considerado isolado, revelou-se um verdadeiro alerta para os profissionais de saúde, e o impacto foi significativo.
Esse tipo de epidemia, se é que podemos chamá-la assim, serviu de base para a adoção de novas regulamentações na Europa, especialmente após 2015, quando a metilisotiazolinona passou a ser proibida em cosméticos sem enxágue e a sua concentração foi limitada nos produtos enxaguáveis. Mas, como sempre, a realidade vai além das regulamentações. Cosméticos vendidos pela internet, especialmente os importados de fora da Europa, muitas vezes não seguem essas normas. E isso significa que muitos consumidores estão comprando produtos que, em muitos casos, são perigosos para a sua saúde. Ao comprar um creme ou uma loção que você viu em uma propaganda online, sem saber se ele segue as normas europeias ou americanas, você pode estar colocando sua saúde em risco.
Mas a coisa não para por aí. A Dra. Soria também chamou a atenção para outro risco potencialmente sério, que surge com o uso de isotiazolinonas em produtos como tintas à base de água. Esses conservantes, que visam prevenir o mofo, são encontrados em produtos de uso doméstico, como tintas, e estão gerando cada vez mais casos de angioedema facial, além de crises de asma. Isso não afeta apenas os profissionais que trabalham com pintura; até mesmo pessoas que realizam pinturas amadoras em casa estão sendo afetadas por essas substâncias. E a preocupação é ainda maior quando se leva em conta o fato de que essas reações alérgicas podem se desenvolver de forma insidiosa, ou seja, muitas pessoas podem ser alérgicas e nem sequer perceber, até que seja tarde demais.
Neste ponto, é impossível não perceber a importância de se conscientizar sobre o que estamos consumindo e utilizando no nosso dia a dia. O mercado de cosméticos e produtos para a casa está em constante evolução, e com isso, surgem novos alergênios que podem causar danos à nossa saúde. Não é mais apenas uma questão de cuidados com a pele, mas sim uma questão de saúde pública, que precisa ser abordada com seriedade e rapidez. O que a Dra. Soria nos apresenta não é apenas um alerta médico, mas também uma chamada à ação para todos nós, consumidores. Precisamos estar mais atentos ao que compramos, ao que aplicamos em nossa pele e ao que usamos em nossas casas.
Agora, imagine-se em um cenário onde você compra um produto para unhas, um esmalte ou até mesmo uma tinta para a casa, sem a mínima ideia dos riscos que está correndo. Você não precisa ser um especialista em dermatologia para entender que isso é um problema. E o mais preocupante é que as pessoas estão cada vez mais comprando produtos online, sem sequer imaginar o impacto que eles podem ter em sua saúde. A regulamentação da indústria cosmética e de produtos de consumo é crucial, mas a responsabilidade também está em nossas mãos. Cabe a você se informar melhor, procurar marcas que priorizem a transparência e garantir que os produtos que você usa sejam seguros. A saúde da sua pele e do seu corpo está diretamente ligada ao que você escolhe colocar em contato com ela. Então, da próxima vez que for comprar algo, lembre-se: o que pode parecer inofensivo à primeira vista pode, na verdade, ser uma ameaça silenciosa à sua saúde.
A Dra. Soria nos oferece uma visão clara de que, quando se trata de eczema de contato e alergias cutâneas, o problema é muito mais complexo do que imaginamos. Não se trata apenas de evitar determinados produtos, mas de entender as substâncias químicas que estão presentes em tudo o que consumimos. E a questão é: você está realmente ciente do que está colocando sobre sua pele?
Com informações MedScape